quarta-feira, 28 de março de 2012

O Poder do Discurso.



Em um país democrático a principal ferramenta é o discurso, isso não é algo novo, na antiguidade, mais precisamente na Grécia Antiga, existia um grupo de filósofos, denominados Sofistas, que ensinava a arte da oratória e da retórica. O cenário sociopolítico da Grécia Antiga era de crise da Aristocracia (governo de poucos), ascensão de nova classe social e o surgimento da Democracia (governo do povo).

Os Sofistas proclamavam possuir a arte de educar os homens e de prepará-los para a vida política, oferecendo-lhes novas ideias e novos instrumentos.

Muitas foram as criticas feita aos Sofistas, Sócrates dizia que os Sofistas não eram filósofos, pois não tinham amor pela sabedoria nem respeito pela verdade, defendendo qualquer ideia, se isso fosse vantajoso, corrompendo o espírito dos jovens, pois faziam o erro e a mentira valer tanto quanto a verdade. Aristóteles, em seu livro Retórica, escreveu sobre os Sofistas “as pessoas têm razão em fazer objeções ao que prometia ensinar, pois era engano e não probabilidade autêntica, senão aparente”.

É importante salientar que na Grécia Antiga a Democracia era direta, os cidadãos se reunião na praça (ágora) e decidiam o rumo da polis (cidade-estado), por esse motivo o discurso era muito importante, pois as pessoas deveriam defender o melhor rumo para a cidade verbalmente, isto é, os cidadãos defendiam seus pontos de vista utilizando a oratória, convencendo outras pessoas a seguir seus ideais.

Atualmente, a democracia brasileira é indireta, o povo detentor do poder político escolhe quem em seu nome vai governar. O povo através do voto escolhe seus representantes que iram decidir o rumo do país, estados e municípios.

Também na democracia indireta os discursos são importantes, não mais para defender um rumo para um país, mas para conseguir os votos do povo para se tornar seu representante. Dessa forma as pessoas que se colocam a disposição da população para representá-la não tem que convencer qual é o melhor rumo a ser seguido, mas sim demonstrar as qualidades pessoais que tem para resolver os anseios da população.

O foco do discurso na democracia indireta mudou em relação à democracia direta. Na indireta o discurso tem a finalidade de valorizar o candidato a representante do povo, na direta o foco do discurso é a sociedade.

Em ambas as modalidades de democracia, o discurso, a oratória perfeita e inflamada pode conduzir uma nação para a prosperidade ou para o caos.

quarta-feira, 21 de março de 2012

A Democracia está ameaçada pela nossa indiferença.


Devido aos inúmeros casos de corrupção que são atribuídos aos nossos governantes, a população brasileira ficou totalmente desesperançada com a política. No entanto, a nossa omissão não resolve o problema e sim faz com que o mesmo se agrave.

Muitos quando escutam a palavra “política”, vão logo estufando o peito e dizendo “eu odeio política!”. Ocorre que essa atitude só colabora para a situação continuar como está ou até mesmo piorá-la.
Da nossa omissão nasce a corrupção, o analfabetismo, as péssimas condições da saúde, as injustiças sociais e todo os males de nossa sociedade.

Uma grande parcela da culpa de termos maus políticos é nossa, pois somos nós que votamos neles, somos nós que damos a oportunidade para os políticos administrarem nossa cidade, estado e país.

Em 1984 milhões de brasileiros pediam eleição direta para presidente, esses milhões de brasileiros estavam lutando para poderem escolher quem seria o nosso governante maior em nossa nação, quem seria o nosso Presidente da República. Esse direito de votar para presidente da República foi reconhecido em 1988 com a nova Constituição da República. Esses milhões de brasileiros estavam lutando para que o país fosse uma Democracia.

Vinte e quatro anos depois, muitos brasileiros não sabem o que fazer com a Democracia, muitos ignoram totalmente a necessidade de se refletir sobre política. Cada vez mais temos em nossa sociedade o pior de todos os analfabetos, o analfabeto político. Isso porque o analfabeto político não sabe que o preço do pão, do feijão, da gasolina, o valor do salário que vamos receber no final do mês e muitas outras coisas dependem da política.

Vivemos em uma democracia indireta, pois nomeamos as pessoas que irão nos representar nas diversas esferas de governo. O voto na sua essência é o momento no qual transferimos o nosso poder (garantido na democracia – poder do povo) para outras pessoas decidir o rumo de nossa cidade, estado e país.

Esse ano tem eleições para prefeito e vereadores, esse é o momento para refletir que cidade vamos querer para os próximos quatro anos, quem vai governá-la. Não podemos ignorar esse momento, não podemos votar sem conhecer a pessoa que estamos votando. A nossa indiferença ameaça a Democracia.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Liberdade, um fardo ou um direito?



Quando falamos de liberdade, podemos imaginar o vôo de um pássaro, o nadar de um peixe, um animal solto na selva e muitas outras coisas. No entanto o que nos interessa é a liberdade humana de agirmos conforme nossa vontade.

Sempre que penso sobre liberdade algumas questões surgem:

Somos todos livres?

Qual a consequência de sermos livres?

É possível ser livre e viver em sociedade ao mesmo tempo?

Nos séculos XVII e XVIII, no auge do iluminismo, a bandeira da liberdade foi levantada contra a tirania dos monarcas, a liberdade foi tratada como um bem inalienável, algo que o ser humano não poderia deixar de ter. Como escreveu Jean Jacques Rousseau (1712-1778): “renunciar a liberdade é renunciar à qualidade de homem”.

John Locke (1632-1704) acreditava que a liberdade é algo necessário para as instituições políticas e essencial para garantir a paz. Em uma de suas obras Locke ressalta a importância da liberdade: Para compreender corretamente o poder político e traçar o curso de sua primeira instituição, é preciso que examinemos a condição natural dos homens, ou seja, um estado em que eles sejam absolutamente livres para decidir suas ações, dispor de seus bens e de suas pessoas como bem entenderem, dentro dos limites do direito natural, sem pedir a autorização de nenhum outro homem nem depender de sua vontade.” (Segundo tratado sobre o governo civil).

No entanto, a liberdade não traz apenas bônus, mas também um ônus. Para o filosofo medieval Agostinho de Hipona (para os católicos Santo Agostinho) a liberdade humana justificar a existência do mal. Como Agostinho defendia a existência de um Deus bondoso e criador de tudo, ficava-se a pergunta: Se Deus é o bem supremo e criador de tudo, como o mal pode existir? O filosofo entendia que Deus deu o livre-arbítrio para o homem é nas escolhas que o ser humano faz que o mal passa existir.

Para o filosofo moderno Thomas Hobbes (1588-1679) todos os seres humanos abrem mão de sua liberdade para viver em paz, criando um contrato social, no qual a vontade das pessoas deveria ser submetida ao um governo ou ao Estado para assegurar a paz interna e a defesa coletiva. Observem as palavras abaixo:

“...pertence à soberania todo poder de prescrever as regras por meio das quais todo homem pode saber quais bens de que pode gozar e quais as ações que pode praticar, sem ser molestado por qualquer de seus concidadãos: é a isto que os homens chamam propriedade. Porque antes da constituição do poder soberano todos os homens tinham direito a todas as coisas, o que necessariamente provocava a guerra. Portanto, essa propriedade, dado que é necessária a paz e depende do poder soberano, é um ato desse poder, tendo em vista a paz pública. Essas regras da propriedade, tal como o bom e o mal, ou legitimo e o ilegítimo, nas ações dos súditos, são as leis civis”. (Leviatã)

Para a teoria de Hobbes, o homem para viver em paz ele deve abdicar de todos os seus direitos, inclusive de liberdade.

Sartre (filosofo contemporânea - 1905-1980) acreditava que o ser humano não pode abdicar do direito a liberdade com entendia Hobbes, para Sartre a liberdade é um fardo que não podemos abrir mão. “estamos condenado à liberdade” “a escolha é possível num sentido, mas o que não é possível é a não escolha”. Mas por que a liberdade é um fardo? Essa resposta é simples, somos livres para fazermos o que quisermos, no entanto somos responsáveis pelas nossas escolhas. Não existe ação sem reação, todas as nossas ações e omissões vão gerar consequências e temos que arcar com o resultado das mesmas. O plantio é sempre facultativo, mas a colheita é sempre obrigatória. Se plantarmos árvores ruins, colheremos frutos ruins, no entanto se plantarmos árvores boas colheremos frutos bons.

Outro ponto que temos que ter em mente quando falamos de liberdade é que vivemos em sociedade. Nesse sentido, a vontade das pessoas é submetida a preceitos éticos, todos nós somos livres, mas algumas atitudes podem não ser boas para o convívio em sociedade. Fazer o certo ou o errado é uma relação intima de cada um. Podemos fazer coisas que pode prejudicar outras pessoas, usando a justificativa que determinada ação foi realizada para garantir algo que se almeja. Muitas vezes, nos submetemos as situações em que abrimos mão de algo que queremos para podemos conviver com as outras pessoas. Não que deixamos de ser livres, mas utilizamos do consenso (uma regra geral) para podermos conviver em harmonia.

sexta-feira, 9 de março de 2012

A felicidade dos ignorantes.



“A ignorância pode ser tão profunda que sequer a percebemos ou a sentimos, isto é, não sabemos que não sabemos, não sabemos que ignoramos. Em geral, o estado de ignorância se mantém em nós enquanto as crenças e opiniões que possuímos para viver e agir no mundo se conservam como eficazes e úteis, de modo que não temos nenhum motivo para duvidar delas, nenhum motivo para desconfiar delas e, conseqüentemente, achamos que sabemos tudo o que há para saber.” (Marilena Chaui – Convite à Filosofia)


O que é melhor, ser feliz na ilusão ou triste na realidade?


Essa pergunta em uma primeira análise pode parecer obvia, todos preferem à realidade do que a ilusão. No entanto, esse processo de sair da ilusão não é fácil, muita vezes as pessoas ignoram que estão iludidas. Muitas vezes sair da zona de conforto da felicidade é um processo lento. Isso ocorre porque todas as pessoas sonham em ser felizes. A ignorância nesses casos parece ser uma dádiva.


A ignorância diante da felicidade parece ser um preço barato a ser pago. Por que questionar uma realidade confortável? Enquanto as ilusões parecerem úteis e eficazes para nossa vida não questionamos.


Para facilitar o entendimento vou citar um exemplo, em sua maioria as pessoas que protestam por segurança pública, o fazem porque sofreu na pele a violência, ou teve uma pessoa próxima que passou por uma situação de violência. As pessoas vivem em uma ilusão que nada de mau vai acontecer, mas quando essa ilusão é quebrada pela violência essas pessoas passam a protestar por melhores condições de vida.


Uma outra situação a ser pensada, no Brasil temos uma das maiores emissoras de televisão do mundo e em seus telejornais diversas informações são passadas para os telespectadores e muitos as aceitam como verdades inquestionáveis, mas será que todas as informações são realmente verdadeiras? No entanto, o grande questionamento é: por que questionar a veracidade das informações? Aceitá-las aparentemente é mais fácil.


Não precisamos ir muito longe para demonstra essa aceitação pacifica as informações que nos são passadas. Os jornais impressos regionais, muitas vezes passam a impressão que vivemos em uma cidade maravilhosa e quase sem problema. Nesse ponto volto a questionar: por que essas informações não seriam verdadeiras? Qual o interesse por trás das informações? A quem interessa a ignorância generalizada?


O grande problema é que questionar dá muito trabalho e as respostas podem abalar o estado ilusório de felicidade. Quem não usa os serviços públicos desconhecem a sua qualidade. Muitos têm seu carro, um convenio particular de saúde e seus filhos estudam em escolas privadas, a cidade com má qualidade na prestação de serviços públicos parece muito distante e uma discussão teórica que para esses não interessa minimamente. Muitos são felizes e iludidos, mas para que questionar se a finalidade do homem é ser feliz?


Como professor filosofia defensor de uma atitude crítica, acredito que questionar é sempre necessário. Temo o conformismo e a ignorância generalizada.

terça-feira, 6 de março de 2012

Escolástica e a prova da existência de Deus



Continuando nosso assunto sobre filosofia cristã, vou avançar um pouco no tempo e me reportar ao século XI e discorrer sobre a Escolástica e a prova da existência de Deus.

A palavra Escolástica é devido à formação dos ensinos religiosos ocorrerem em escolas. É nesse período também surgem às primeiras universidades.

Assim como na Patrística, na Escolástica vai existir a preocupação com a questão da conciliação entre fé e a razão, mas outros pontos diferentes também são debatidos como um aprofundamento da teologia e demonstração racional da existência de Deus criador.

O auge da escolástica foi na segunda metade do século XII chegam às universidades as traduções hispânicas de versões árabes das obras de Aristóteles. É o grande choque cultural que muda o rumo do Ocidente e que catapulta a Escolástica para a sua "era de ouro" no século XIII, quando Agostinho deixa de ser o eixo do pensamento cristão, e a filosofia natural aristotélica se agiganta diante da teologia.

Para a Escolástica, algumas fontes eram fundamentais no aprofundamento das reflexões, por exemplo, os filósofos antigos, as Sagradas Escrituras, os Padres da Igreja, autores dos primeiros séculos cristãos que tinham sobre si a autoridade de fé e de santidade. Utilizando essas fontes criou-se o princípio da autoridade, esse princípio era utilizado para dizer se uma tese era verdadeira ou falsa. As teses eram analisadas e não poderiam contrariar essas fontes fundamentais para o cristianismo.


Santo Anselmo e a prova da existência de Deus

“O ser do qual não se pode pensar nada maior existe, sem dúvida, na inteligência e na realidade”

Anselmo nasceu na Itália no ano de 1033 e faleceu em 1109, segue uma vida religiosa e é considerado um dos iniciados da Escolástica. Buscou a razão para servir de fundamento da fé.

Desenvolveu uma teoria para provar a existência de Deus, na qual será retomada na Filosofia Moderna por René Descartes.

Utilizando o conceito de Perfeição, Anselmo defende que Deus é concebido como Aquele acima do qual nada maior pode ser pensado, inevitavelmente leva-nos a afirmação de sua existência. A perfeição seria uma escala máxima que obrigatoriamente tem que existir para se medir coisas inferiores. Exemplo o ser humano é imperfeito, mas para ele ser imperfeito temos a compreensão que o perfeito existe, sendo assim esse perfeito é Deus que obrigatoriamente tem que existe.

Outra argumentação começa do ponto intelectual, isto é, no campo do pensamento. Anselmo alega, um ser do qual não se pode pensar nada maior não poderia existir somente no pensamento de cada homem, caso contrario, poderia pensar algo maior que existisse também na realidade, sendo assim, um ser do qual não se pode pensar nada maior obrigatoriamente existe.


São Tomás de Aquino

Outro importante filosofo da Escolástica foi Tomás de Aquino. Nasceu, na Itália (1225-1274), dedicou sua vida à religião e a educação. Estudou em Nápoles, Paris e Colônia (atual Alemanha), e lecionou entre outras na Universidade de Paris, em que se tornou doutor em teologia.

Autor de diversas obras teológicas e, também, de comentários a livros bíblicos. Sua obra mais conhecida é a Suma teológica, na qual apresenta conceitos aristotélicos para comprovar a existência de Deus.

Assim como Agostinho (cristianizou Platão), Tomás de Aquino vai utilizar um filosofo antigo para desenvolver sua filosofia, ele vai sacralizar Aristóteles. No entanto, ambos se opõem no modo de ver o mundo.

Agostinho entende que é necessário “crer, para entender” e para Tomas de Aquino é necessário “entender, para crer”.

Uma das questões enfrentada por Tomás de Aquino foi a relação entre fé e razão. Esforçou-se para demonstrar que a fé e a razão não se opõem, pois ambas derivam de Deus; assim sendo, não haveriam verdades discordantes entre esses dois níveis. Elas são distintas, mas integradas. A partir desse entendimento, colocou-se a filosofia, como pensamento racional, a serviço da teologia, que é uma forma de pensar a fé. Para Aquino, a filosofia deve oferecer uma compreensão racional das experiências da fé, de tal forma que a fé não pareça ser irracional. Caso haja uma discordância entre um argumento da teologia e um argumento da filosofia, esta ultima deve rever sua argumentação, pois a razão não pode contestar um argumento da fé, que é mais elevado que a razão, caso isso ocorra a filosofia deve rever suas premissas, pois em algum momento deve haver um erro.

A fé vem para complementar a razão, pois algumas verdades não têm com ser alcançadas pela razão, somente são possíveis com a revelação divina.

“O homem deve conhecer o fim o qual deve ordenar as suas intenções e ações. Por isso se tornou necessário, para a salvação dos homens, que lhes fossem dadas a conhecer, por revelação divina, determinadas verdades que ultrapassam a razão humana.”

Existência de Deus

Aquino vai utilizar Aristóteles para provar a existência de Deus:

Cinco vias para demonstração da existência de Deus.

1º via - Ato e Potência

A primeira via de argumentação baseia-se no argumento do movimento. O movimento se caracteriza pela passagem de “potência” para “ato”. Somente o que existe em “ato” (o que é nesse exato momento) seja algo que possa ser “potência” (o que pode vir a se tornar). Todas as coisas que são movidas são movidas por outra. No entanto, existe algo que iniciou esse movimento e que não teve origem alguma, esse Ser é Deus.

Para toda “potência” existe um “ato” anterior.

Ex: Uma árvore para ser árvore (potência) anteriormente precisou ser semente (ato).

Nada pode ser “ato” e “potência” ao mesmo tempo, logo existe um “ato” que originou toda “potência”.

A esse primeiro “ato” chamamos de Deus.

2º via – Causa eficiente - o que fez com que determinada substancia tornou-se o que é hoje.

Nada pode ser causa eficiente de si próprio, pois seria anterior a si próprio, seria causa e efeito ao mesmo tempo, seria anterior e posterior ao mesmo tempo o que seria absurdo. Sendo assim toda causa deve ter sido provocada por outra e essa outra por uma terceira e assim sucessivamente. No entanto, não é possível a regressão até o infinito, logo existe uma causa que não foi causada por nada, ai está Deus.

3º via – Necessidade (o que é invariável) e contingência (quando o oposto de determinada coisa é possível).

Constatamos a existência da contingência na natureza, mas nem todas as coisas podem ser contingência, pois dessa forma não poderia existir coisa alguma. Sendo assim, existe um ser necessário a tudo, esse ser é Deus.

4º via – Toma como ponto de partida a hierarquia das coisas (o grau que se encontram as coisa – mais ou menos)

Considerada como algo originária do platonismo.

Todas as coisas têm um predicado, isto é, um grau comparativo (mais ou menos). Quanto à perfeição, o máximo de perfeição possível é Deus.

5º via – Causa final (referente a finalidade das coisas).

Tudo no Universo tem uma finalidade, isto é, nada é movido pelo acaso. Sendo assim tudo findaria para uma primeira finalidade, e essa é Deus.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Agostinho de Hipona (Santo Agostinho) – 354-430 d.C.

Não podemos falar de filosofia Cristã sem antes falar de Agostinho de Hipona, para os Católicos Santo Agostinho, foi o principal filosofo da Patrística. Sua filosofia influenciou o cristianismo ao longo de muitos séculos, sua influência pode ser sentida até o século XIII d.C.

A Filosofia Antiga para Agostinho consiste em uma espécie de preparação da alma, útil para a compreensão da verdade revelada e é justamente um filosofo antigo que ele vai utilizar para dar base a sua filosofia. Agostinho vai utilizar Platão em sua Teologia, juntamente com os ensinamentos do Apostolo Paulo.

Agostinho acreditava que a mente humana era falível e limitada, sendo assim, para ele o ser humano só poderia chegar a uma verdade absoluta e incontestável através da revelação divina. O ser humano foi criado a imagem e semelhança de Deus, iluminando a nossa mente, Deus colocaria em nós muitos conhecimentos que seriam posteriormente utilizados pela alma à medida que os mesmos fossem sendo recordados. A teoria da iluminação vem assim explicar o ponto de partida do processo de conhecimento, abrindo caminho para a fé. Esse entendimento em relação a teoria do conhecimento para Agostinho se assemelha muito com o entendimento de Platão. O filosofo antigo explica (no dialogo Ménon) que a virtude não pode ser ensinada, pois já nascemos com ela ou nenhum mestre seria capaz de introduzi-la em nossa alma uma vez que a virtude seria uma característica da própria natureza humana. A função do filosofo seria exatamente a despertar essa virtude adormecida na alma de todos os indivíduos.

Para Agostinho, no intimo do homem tem algo divino (alma), sendo assim não teria como o homem investigar a si mesmo sem investigar a Deus.

Para conhecer Deus o homem tem que voltar-se para dentro de si.

de fora para dentro e de dentro para Deus(Santo Agostinho)

Utilizando essa formula, de Agostinho, percebemos uma aproximação ao dualismo platônico, no que se refere tanto ao conhecimento quanto a questão da imortalidade da alma.

O caminho para o divino estaria na meditação, afastando-se das sensações do mundo exterior e contemplando o interior.

Agostinho acredita que o limite do homem era a medida de sua comunhão com Deus nessa vida terrestre. No entanto, somente com a morte conheceremos plenamente à Deus, quando nossa alma poderá experimentar a realidade divina sem estar presa a realidade física.

Mesmo assim, o fato de não podermos experimentar Deus plenamente não significa que não devemos tentar compreender a verdade divina nessa vida

O conhecimento de Deus para Agostinho pode ser entendido como a sacralização de Platão. No dualismo platônico podemos entender que o mundo das ideias seria o “mundo divino” e o mundo “sensível” seria o mundo que vivemos. A alma seria criada por Deus e a aproximação da alma levaria a Deus, abandonando a satisfação dos sentidos.

Agostinho em sua teologia enfrenta um desafio, acreditando que Deus é um bem supremo e criador de tudo, como o mal pode existir? Nesse ponto está baseada toda a ética para Agostinho.

Na concepção de Agostinho não existi um mal absoluto, o que existe é o afastamento do bem (contrariando a concepção maniqueísta). Agostinho se inspira em Platão e acredita existir apenas o bem. O mal seria a escolha do homem (livre-arbítrio) de se privar do bem.

Deus deu o livre arbítrio para a humanidade, é nesse ponto que a existência do mal é justificado. Se as pessoas estivessem permanentemente inclinadas para o bem, não teriam possibilidade de exercer o livre-arbítrio nem tampouco teriam responsabilidades pelos seus atos. Nesse sentido o julgamento divino não aconteceria, pois com o livre-arbítrio as pessoas fazem suas escolhas e a essas elas seriam julgadas por Deus.

sexta-feira, 2 de março de 2012

A origem da Filosofia Cristã (Filosofia Medieval)


No século II d.C. o Império Romano entra em declínio e o cristianismo começa sua expansão.

Com a dissolução do Império, as invasões bárbaras e o desaparecimento das instituições, os centros de difusão cultural também se desagregaram. Nesse momento a Igreja Católica se tornou uma das maiores instituição do Período Medieval.

Diversas interpretações da doutrina cristã e outras religiões pagãs se faziam presentes no contexto europeu. Foi através do Concílio de Nicéia, em 325 d.C., que se assentaram as bases religiosas e ideológicas da Igreja Católica Apostólica Romana. Através da centralização de seus princípios e a formulação de uma estrutura hierárquica, a Igreja teve condições suficientes para alargar o seu campo de influências durante a Idade Média.

Na idade média a filosofia Cristã pode ser dividida em duas etapas:

Do século I ao IX d.C. período denominado de Patrística.

Do século X ao XIV d.C. período denominado de Escolástica.

Patrística


A patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos primeiros Padres da Igreja para conciliar a nova religião – o Cristianismo - com o pensamento filosófico dos gregos e romanos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer os pagãos da nova verdade e convertê-los a ela. A Filosofia patrística liga-se, portanto, à tarefa religiosa da evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia dos antigos.

Paulo – é uma das figuras mais importantes do Novo Testamento. As informações sobre sua vida estão nos Atos dos Apóstolos e nas Cartas que ele escreveu para várias comunidades cristã que ele fundou (presentes na Bíblia). As cartas de Paulo são uns dos documentos mais importantes para o Cristianismo e para a Patrística.

Filhos de judeus e cidadão romano, antes de converter-se, perseguia os cristãos.

Homem bem preparado, além de conhecer a religião dos Judeus, possuía boa noção de filosofia e da religião grega da época.

João – Herda de seu pai a profissão de pescador, conheceu Jesus na Galiléia.

“...Estava na barca com seu pai Zebedeu, consertando as redes. E Jesus os chamou. Eles deixaram imediatamente a barca e o pai, e seguiram a Jesus”. (Mateus 4 : 21-22)

Um dos 12 discípulo de Jesus e um dos quatro evangelista.

O Evangelho de João é diferente dos outros evangelhos escritos por Mateus, Marcos e Lucas. Os três evangelistas narram muitos milagres e diálogos de Jesus. Em João encontramos apenas sete milagres, que são chamados de sinais, e alguns discursos que se desenvolvem lentamente, repetindo sempre os mesmos temas-chaves. Como uma espécie de meditação, João escreve, procurando aprofundar e mostrar o conteúdo da catequese existente em sua comunidade. Seus escritos visa a despertar e a alimentar a fé em Jesus Cristo.

O Evangelho de Jesus segundo João, assim como as cartas de Paulo, é um dos documentos mais importantes para o Cristianismo e para a Patrística.

O grande tema de toda a Filosofia patrística é o da possibilidade de conciliar razão e fé, e, a esse respeito, havia três posições principais:

1. Os que julgavam fé e razão irreconciliáveis e a fé superior à razão.

2. Os que julgavam fé e razão conciliáveis, mas subordinavam a razão à fé.

3. Os que julgavam razão e fé irreconciliáveis, mas afirmavam que cada uma delas tem seu campo próprio de conhecimento e não devem misturar-se (a razão se refere a tudo o que concerne à vida temporal dos homens no mundo; a fé, a tudo o que se refere à salvação da alma e à vida eterna futura).

O Principal filosofo da Patrística foi Agostinho de Hipona, para os católicos Santo Agostinho (354 – 430 d.C).